A presente pesquisa contextualiza uma comunidade em situação de vulnerabilidade social, em Fortaleza, Ceará, a qual se assemelha a outros grupos vulneráveis no Brasil, o que reforça a necessidade de um olhar ampliado para as desigualdades sociais, no intuito de compreender como essas comunidades mobilizam-se diante das situações de exclusão e iniquidades. Nesse cenário, acredita-se que o DP oportuniza uma articulação comunitária, bem como promove uma maior validade na identificação dos problemas enfrentados por essa população.
Este estudo justifica-se pela necessidade de identificar problemas impactantes na saúde dessa população, favorecendo o direito à expressão dos moradores e o planejamento de ações intersetoriais para a melhoria das condições apontadas. Acredita-se que este trabalho contribui para o aprimoramento da metodologia participativa do DP, podendo vir a ser utilizada em outros cenários urbanos. Assim, questiona-se: quais problemas identificados pelos moradores da comunidade em estudo impactam nas condições de saúde? Quais estratégias são utilizadas para enfrentar os problemas identificados e produzir saúde?
Dessa forma, objetivou-se conhecer a percepção dos moradores sobre os problemas existentes e que interferem na saúde de uma comunidade em situação de vulnerabilidade social e as estratégias utilizadas na busca de resolubilidade dos problemas.
Este artigo está inserido no projeto “Participação e mapeamento comunitário para promoção de qualidade de vida e inclusão social de moradores do Dendê”, que teve como base o Diagnóstico Participativo.
Realizou-se uma pesquisa participante com a construção de parcerias comunitárias, buscando garantir a sustentabilidade e a efetividade de futuras intervenções. Os participantes do estudo foram moradores da Comunidade do Dendê situada no bairro Edson Queiroz, em Fortaleza, Ceará. Esta capital conta com aproximadamente 2.551.805 habitantes, sendo considerada a 5ª cidade do mundo com maior índice de desigualdade social. Neste cenário, está albergada a Comunidade em estudo, a qual contempla um marcante cenário de contrastes e desigualdades.
As primeiras famílias que habitaram a Comunidade em estudo foram removidas de outras favelas de Fortaleza. Um grupo de religiosas realizou catequese e luta pelos direitos da comunidade; surgindo, nos anos 80, a Associação dos Moradores, quando a população local formou lideranças em busca de melhores condições de vida.
Participaram do estudo 31(trinta e um) informantes-chave (IC) moradores da comunidade há mais de cinco anos, com idades de 18 a 80 anos, sendo 24 mulheres e 7 homens, que apresentavam condições para responder a pesquisa e concordaram em participar das três fases do estudo.
As ações de mobilização social são apresentadas como um somatório de esforços capazes de envolver uma maior quantidade de pessoas e instituições na busca de resolver problemas de interesse coletivo.
As alternativas apontadas pelos IC para resolver o problema do saneamento básico correspondem ao que é possível financeiramente. Assim, os moradores executam obras sem amparo de especialistas, inadequadas para a total resolução do problema. Porém, estas tentam minimizar os transtornos causados pela convivência direta com o esgoto.
A Comunidade em estudo apresenta problemas referentes às necessidades básicas de saúde, em que se faz necessário transportar a visão comportamentalista e de ênfase da ação individual para uma visão coletiva. Verifica-se que os relatos dos moradores evidenciam a negligência política e social que afeta essa população, haja vista que muitos dos problemas estão fora de sua governabilidade, mostrando características de iniquidade na saúde e vulnerabilidade social. Conviver com a falta de saneamento, iluminação pública, não recolhimento do lixo e insegurança pública resulta de uma condição de disparidades sociais e de saúde. Daí, a importância de se efetivarem ações que garantam a equidade, reduzindo ou eliminando as diferenças evitáveis, e que promovam a saúde.
Mesmo com tantos problemas fora de sua capacidade de governança, a comunidade apresenta uma forte articulação interna na busca do bem-estar social e da resolução dos problemas identificados. Ademais, conta com a parceria de instituições particulares e ONGs que se situam no seu entorno para ampliar o alcance de suas ações.
No campo das estratégias de enfretamento, verificou-se fragilidade na relação entre o poder público e a Comunidade em estudo, pois nenhuma parceria com órgãos públicos foi citada, o que revela a necessidade urgente das ações governamentais se voltarem para a elaboração de políticas de caráter intersetorial e de participação popular, a partir de um conceito de saúde ampliado.
Verifica-se que o conhecimento das condições de vida e de saúde dessa comunidade, por meio do diagnóstico participativo, favorece reflexões sobre o território e a saúde, valorizando a visão dos moradores, o que facilita a busca de mudanças do modelo atual, o enfrentamento das iniquidades e a implementação de melhorias. Nesse contexto, destaca-se a importância da participação contínua de cada membro da comunidade e de instituições parceiras na elaboração de um plano de desenvolvimento local e de incremento das políticas públicas.
Diante dos resultados, o diagnóstico participativo constitui um importante caminho para a escuta coletiva e a produção de saúde em comunidades vulneráveis. Este estudo inspira novas pesquisas em parceria com esta e outras comunidades, onde serão desenvolvidos debates e ações, o que pode vir a ampliar a participação social na promoção da saúde e no enfrentamento de problemas, além de contribuir para a garantia do direito à cidade a todos os seus moradores.
Referência: SOUSA, Izautina Vasconcelos de; BRASIL, Christina César Praça; VASCONCELO, Dayse Paixão e. Diagnóstico participativo: Diagnóstico participativo para identificação de problemas de saúde em comunidade em situação de vulnerabilidade social. 2017. IV Sousa, CCP Brasil e DP Vasconcelos participaram de todas as fases da pesquisa e da elaboração do artigo; RM Silva participou da elaboração do artigo, da revisão crítica e aprovação da versão a ser publicada; KA Silva participou da análise e interpretação dos dados, e da redação do artigo; IN Bezerra participou da concepção, delineamento, análise e interpretação dos dados; TJ Finan participou da concepção, delineamento, análise e interpretação dos dados.. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232017021203945&lang=pt>. Acesso em: 03 out. 2017.
Aluna: Cláudia Maria de Jesus Alves
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