A análise dos mapas afetivos dos ACS possibilitou a construção de imagens que revelam sentimentos e afetos que emergem do processo de inserção comunitária e das vivências com as famílias no território. Os resultados obtidos na pesquisa mostraram que mesmo em face às dificuldades e contrastes do território, foi encontrada uma implicação positiva do ACS que emerge do vínculo, acolhimento, respeito e do sentir-se responsável pelas famílias. O bom encontro com o outro aparece, portanto, como o grande potencializador da ação profissional e da vinculação com o território, capaz de promover uma implicação positiva com o trabalho e o território.
A questão da falta de acesso às famílias foi um ponto recorrente nos mapas afetivos, e nos leva a refletir sobre o lugar que o ACS ocupa na comunidade e o quanto seu trabalho é reconhecido e legitimado pela população. O modelo biomédico de atenção à saúde prevalece na sociedade, onde as pessoas buscam as práticas curativas e medicalizantes, e o ACS surge como um profissional que atua diretamente na prevenção e promoção da saúde, o que não se enquadra nesse perfil biomédico. Além disso, o ACS não ocupa o lugar do saber do especialista, privilegiado socialmente.
Estes aspectos, dentro das relações de poder que se estabelecem no cenário social, impactam diretamente na legitimação que sua fala adquire ou não no território, nas permissões que são dadas ou negadas a este profissional, para que possa transitar em alguns espaços. Neste jogo de poderes e saberes, o ACS pode ser entristecido, tendo sua potência de ação diminuída, assim como os bons encontros podem ser cada vez mais raros. Olhar para estes aspectos permite-nos, inclusive, pensar estratégias capazes de romper com a lógica dominante e com o que está instituído, delineando novas possibilidades de potencializar o profissional em campo, de maneira que sua ação possa gerar alegria e romper com a servidão sua e das famílias com quem trabalha. É nesta dimensão que a afetividade se constitui como categoria ética e política, sendo a via pela qual podemos pensar a transformação social.
Vislumbramos a necessidade de fortalecer a relação entre o ACS e as famílias, no contexto da Atenção Básica à Saúde, no sentido de facilitar o acesso e o acompanhamento do território. Pois é na possibilidade do encontro com o outro e com o ambiente, do cuidado e da atenção, que os ACS vivenciam as relações de afetos que potencializam a sua ação e a motivação para realizar o trabalho.
Nessa perspectiva ressaltamos a importância dos afetos potencializadores do ACS como fator protetivo para si mesmo diante das diversas situações que vivenciam na atuação cotidiana no território. As afetações positivas que emergem nesse processo de interação comunitária e vínculos com as famílias contribuem para o fortalecimento do profissional ACS na busca de melhoria do seu trabalho e compromisso social com a comunidade.
Esperamos que o estudo da afetividade dos ACS no território contribua para ampliar o olhar sobre a dimensão subjetiva na atenção básica, que está presente em todas as relações humanas e não pode ser negada, e que os resultados encontrados nesse estudo possam servir para fortalecer o papel do ACS e reconhecer o seu potencial de ação no território.
Podemos considerar que a realização desse trabalho foi uma experiência desafiadora e intensa, permeada de bons encontros, afetos e emoções, e não se torna o fim, mas o começo de uma caminhada, no sentido da busca e da construção de novos conhecimentos.
Aluno: Esdras Rodrigo S. Santana
Referência: 1, Yandra Raquel do Nascimento Bezerra; FEITOSA, Maria Zelfa de Souza. A afetividade do agente comunitário de saúde: A afetividade do agente comunitário de saúde no território: um estudo com os mapas afetivos. 2016. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232018000300813&lang=pt>. Acesso em: 16 jun. 2016.
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